Relacionamento Real: Aprenda a Conviver com os Defeitos do Seu Parceiro!
- Mari Valeriano
- 10 de mar.
- 4 min de leitura
Atualizado: 11 de mar.
"Não sinto mais nada por ele. Só quero distância..."
Frases como essas ecoam em consultórios, conversas íntimas e até em silêncios constrangedores à mesa de jantar. O que acontece quando o amor, que um dia foi intenso, se transforma em indiferença? Quando olhamos para o parceiro e enxergamos apenas falhas, rancores e uma desconexão que parece irreparável?
A verdade é que relacionamentos não desmoronam do dia para a noite... Eles são corroídos por micro feridas: cobranças excessivas, palavras ásperas, silêncios que gritam, falta de colaboração no dia a dia ou até gestos de desrespeito que, acumulados, criam uma barreira emocional.
O que muitos interpretam como "falta de amor" é, na realidade, o acúmulo de mágoas não resolvidas e a construção de uma narrativa negativa sobre o outro.

A Armadilha dos "Conceitos Negativos"
Imagine uma cena comum: seu parceiro esquece, pela terceira vez, de levar o lixo. Em vez de um diálogo, você internaliza: "Ele nunca se importa comigo"...
Esse é o início dos conceitos negativos — generalizações que transformam falhas pontuais em definições absolutas do caráter do outro.
Esses conceitos surgem de:
Cobranças não comunicadas (ex.: expectativas não verbalizadas sobre divisão de tarefas).
Tom de voz agressivo em discussões, que ferem mais que o conteúdo da fala.
Falta de reconhecimento (ex.: ignorar esforços do outro, como cuidar das crianças ou trabalhar excessivamente).
Comparações tóxicas (ex.: "Você é igual ao seu pai", "Minha amiga tem um marido melhor").
Com o tempo, esses padrões criam uma lente distorcida: você pára de ver a pessoa que ama e passa a enxergar um "inimigo". As qualidades que um dia o atraíram — a paciência, o humor, a generosidade — são apagadas pela narrativa de que "ele é egoísta", "irresponsável" ou "frio".
A Mágoa: O Inimigo Silencioso dos Relacionamentos
A mágoa é como um veneno de ação lenta. Ela não surge apenas de grandes traições, mas de pequenas negligências emocionais que, repetidas, minam a conexão. Segundo a psicologia, ela se desenvolve em três estágios:
Fase da Irritação:
"Ele deixou a toalha molhada na cama de novo. Que falta de consideração!"
Aqui, ainda há admiração pelo parceiro, mas as falhas começam a gerar desconforto.
Fase da Distância Emocional:
"Não quero mais discutir. Ele nunca vai mudar."
A mágoa se transforma em ressentimento. Evita-se conversas profundas, há menos toques e cumplicidade.
Fase da Desumanização:
"Ele é um péssimo pai. Não merece minha compaixão."
Nesse estágio, o parceiro é visto como "todo mau". Surgem críticas públicas, desejo de vingança ou até indiferença total.
Por Que o Perdão Não É (Só) Sobre o Outro
Muitos associam o perdão a um ato de fraqueza — como se fosse "aceitar" o comportamento do outro. Na realidade, perdoar é um processo de libertação interna. Como explicam os psicólogos Griffa e Moreno, é uma habilidade madura da personalidade, que exige:
Reconhecer a própria dor sem vitimização.
Separar o ato da pessoa (ex.: "Ele foi grosseiro" vs. "Ele é grosseiro").
Abandonar a ilusão de controle (ex.: parar de exigir que o outro mude para você ser feliz).
Um exercício poderoso é o "Diário da Reinterpretação":
Liste três situações recentes que o magoaram e escreva como você interpretou cada uma (ex.: "Ele não me respeita").
Reflita: Há outras explicações possíveis? (ex.: "Ele estava estressado com o trabalho").
Compartilhe suas descobertas com o parceiro, usando "Eu senti" em vez de "Você fez".
Ressignificando os Conflitos: Do Ataque à Conexão
Conflitos não são sinais de que o amor acabou, mas oportunidades para reconstruir pontes. A chave está em substituir a dinâmica de "acusação e defesa" por diálogos que priorizem a vulnerabilidade.
Exemplo Prático: Frases que afastam:
"Você nunca me ajuda em casa!"
"Você só pensa em você!"
Frases que aproximam: "Eu me sinto sobrecarregada. Preciso da sua parceria."
"Quando você age assim, sinto que não sou prioridade. Podemos conversar?"
A neurociência explica: quando nos sentimos atacados, o cérebro ativa o modo "luta ou fuga". Por isso, comunicação não violenta (CNV) acalma o sistema nervoso e abre espaço para soluções conjuntas.
Reacendendo a Chama: Pequenos Gestos, Grandes Impactos
O "amor romântico" (paixão) dura, em média, 18 meses. O que sustenta relacionamentos duradouros é o amor companheiro, construído com:
Rituais de reconexão: 15 minutos de conversa diária sem distrações. Ex.: Um abraço prolongado ao chegar em casa (libera ocitocina, o "hormônio do vínculo").
Gratidão ativa: Anote uma qualidade do parceiro por dia. No fim da semana, compartilhe.
Experiências novas juntos: Cozinhar uma receita desafiadora, viajar para um lugar desconhecido. A novidade reativa a dopamina, neurotransmissor associado ao prazer.
Quando Buscar Ajuda Profissional?
Nem toda crise pode ser resolvida a dois. Terapia de casal é indicada quando:
Há ciclos repetitivos de discussão sem resolução.
Um ou ambos guardam segredos que impedem a intimidade.
Existem traumas não superados (ex.: traição, luto).
Dica de ouro: Na verdade, todos nós precisamos passar por um processo terapêutico, afinal, todos temos conflitos internos a serem superados, sejam pessoais ou conjugais...
A Última Pergunta: Vale a Pena Continuar?
A resposta não está no "quanto você ama", mas no quanto estão dispostos a crescer juntos. Amar além dos defeitos não é ignorá-los, mas escolher enxergar a pessoa por trás das falhas — e permitir que ela também o veja além das suas.
Como escreveu o poeta Khalil Gibran:
"O amor não dá nada além de si mesmo e não toma nada além de si. O amor não possui nem é possuído, pois o amor basta ao amor."
Reacender a chama exige coragem para olhar no espelho, perdoar o outro e, principalmente, perdoar a si mesmo pela imperfeição de ambos!
O amor maduro não é um conto de fadas, mas uma escolha diária — e é nessa simplicidade que reside sua beleza...
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